sexta-feira, 24 de abril de 2015

TV Cangaço

História representada na TV Cangaço.
Como estávamos estudando o Cangaço, fiz este trabalho para os alunos conhecerem Lampião. Utilizei a literatura de cordel, pois é típica do Nordeste, região aonde ocorreu o Cangaço.
Os alunos foram divididos em três grupos. Cada grupo ficou responsável por fazer os desenhos de uma parte da história. Para inspirá-los nos desenhos, passei antes da leitura da história, um vídeo sobre a vida de Lampião.
Após a construção da TV, os alunos apresentaram sua parte.





















Lampião, João Ligeiro e Ligeirinho
Valentin Martins Q. Neto


Todos sabem como foi
A vida de Lampião
Na história que nos contam
Os mais velhos e o povão,
Malfeitor e cangaceiro
Que atuou no sertão.

Junto com outros do bando
Era uma corja completa,
Tudo isso foi contado
Já nos livros dos poetas
Bandidagem e conflitos
Que aconteceram na época.

Muitas foram a versões
E as histórias contadas
As brigas, as invasões,
As lutas, as emboscadas
Sem paixão nem invenção
Pra mim, sobraram piadas.

Contarei umas histórias
Tidas como engraçadas
Encontros e desencontros
Que a mim foram contadas
Do bando de Lampião
Que ocorreu nas estradas.
- 01 -

No ano de vinte e sete
O dia estava nublado
A vinte e oito do mês
De março feito o translado
Teve início essa história
Lampião foi abordado.

No Rio Grande do Norte
O chefe estava acampado
No sono do meio dia
O homem foi perturbado
Um mensageiro veloz
Veio trazer-lhe um recado.

Um capataz de seu Pedro
Avisou a Lampião
Que ele devia estar
Na Fazenda Três Irmãos
Para uma conversa urgente
Com seu amigo Pedrão.

O portador conversou
Almoçou, deitou, dormiu
Depois selou o cavalo
Deu obrigado e partiu
O encontro ficou marcado
Pra primeiro de abril.
- 02 -

O cangaço e o poder
Representavam perigo,
Questão de terra e dinheiro
Só resolviam no tiro
Quem não fosse um aliado
Logo seria inimigo.

O bando em suas andanças
Nunca demonstrava medo
Pretendia ir bem longe
Por isso saíra cedo
Queriam logo chegar
Na fazenda de seu Pedro.

Saíram de madrugada
O sol não tinha nascido,
Não foram pela estrada
Pra não serem perseguidos,
Como a noite era escura
O chefe viu-se perdido.

Andando desnorteado
Sem saber se ia ou vinha
Meio atapalhados como
Gente perdida caminha,
Um deles olhou de lado
Avistou uma casinha.
- 03 -

O chefe chegou na casa
Bateu palmas com as mãos
Saíram uma mulherzinha,
Um menino, um ancião
Todos sem saber de nada
Era a família de João.

Lampião explicou tudo
Ao dono daquele lar
Que havia se perdido
E não podia ficar
Naquela situação
Pediu pra ele ajudar.

Eu quero é lhe levar
Disse o chefe com arrogo
Pra prestar informação
Não tome por desaforo
Na minha situação
Vale muito mais que ouro.

Eu bem que queria ir,
Mas, estou muito ocupado
Vou dar milho às galinhas
E botar ração pro gado
Se não fosse esse imprevisto
Eu estava do seu lado.
- 04 -

- Neste sertão requeimado
Eu sou mesmo o maioral,
A desculpa não convence
Pois, pra mim não é legal
Se não quiser ir por bem
Aposto que vai por mal

- Pensando doutra maneira
Quero dizer pra você,
As galinha podem bem
Passar dias sem comer
E quanto ao gado, patrão,
Eu não quero nem saber!

Eu vou lhe acompanhar
Com prazer e alegria
Pra andar neste sertão,
Seja de noite ou de dia,
Eu não tenho um enfado,
Vou ser sua companhia.

Lampião fez um aceno
Os cabras foram na frente
Ele de chapéu quebrado,
Fez um arzinho contente,
Foi o último que saiu,
Seguiu, sumiu de repente.
- 05 -

Quando chegou na divisa
Paraíba - Ceará
Lampião falou a João:
- Tu "tem" que se ausentar,
Mas tem que passar no teste
Para poder te salvar,

O medo bem de repente
De João se apoderou
Ele trêmulo e indeciso
Uma palavra arrancou
De suas cordas vocais
E num tom baixo falou:

- O chefe pode ordenar
Que obedeço ao senhor
Eu só não sei é brigar
Mas sou muito corredor
Confio em "Padim Ciço"
E Cristo Nosso Senhor.

Estavam numa malhada
Vizinha a um serrote,
Embrenhado de jurema
Unha-de-gato, um magote
Foi aí que Sabonete
Apresentou-lhe um capote
- 06 -

- O amigo, disse ele:
Falou que sabe correr
Vai pegar este capote
E trazer pra gente ver
Se o bicho for "simbora"
Tu nunca mais vai viver

E atirou o capote
Em meio ao embrenhado
- Eu vou marcar os minutos
E vão ser: cinco contados
Se tu pegar fica vivo;
Se não pegar é finado.

João já todo arrepiado
Dentro do mato sumiu,
Antes, ele tinha olhado
Aonde o bicho caiu,
Com a partida de João
O bando todo sorriu.

Correu como um desvalido
Como faz os infelizes
Não respeitou os espinhos
Pulando toco e raízes
Logo agarrou o capote
E mais duas cordunizes.
- 07 -

João não voltou feliz,
Pois ele mesmo sabia
A corja que o esperava
E o risco que ele corria;
Felicidade é difícil
Nessas horas de agonia.

Apresentou o achado,
O bando se assustou
Um disse: - é um milagre;
Outro disse: - é corredor.
João pegou o embalo
E dali se evaporou.

Nisso Lampião falou:
Pegue o homem, Gavião!
Ele ainda correu,
Mas não houve solução
Só achou algumas tiras
Da camisa de João.

No rumo de sua casa
João não perdeu essa trilha
A ligeireza, a coragem
Libertara-o dessa ilha
E aqui eu deixo João
Junto com sua família.
- 08 -

Eu lembro de minha infância
Em muitas ocasiões
Do povo contando histórias
Nos terreiros e salões,
Umas causavam risadas
Outras davam emoções.

Contarei outra história
Que ouvi quando menino,
Contar história é difícil
Mas no Nordeste é um hino
O povo conta feliz
Tanto o pobre como o fino.

Os cangaceiros saíram
Um dia de quarta-feira,
O chefe ia na frente
E os demais em fileira,
Fazendo grande zoada
Que parecia uma feira.

De gente, ouviram rumor
Se espalharam no chão
Quando um deles se deitou
Pôs em sua boca a mão
Já foi fazendo um ruído,
Cantando igual a canção.
- 09 -

Esse tipo de ação
Era muito repetido,
Havia a combinação
Entre o grupo dos bandidos:
Quando um estava no chão
Os outros tinham caído.

O rumor então ouvido
Não era de muita gente,
O chefe ergue a cabeça
E avista um velho à frente
Sentado, bem apurado
Lendo a Bíblia contente.

Lampião aplicou ordem
Para um círculo fazer
E atacar o velhinho
Sem o idoso perceber,
Pegá-lo à traição
Sem dar tempo pra correr.

E organizou o bando
Preparou-o àquela altura,
E logo deu outra ordem
- Puxe as armas da cintura
Atirem logo no velho
E leve pra sepultura.
- l0 -

Isso em fração de segundo
Imediato foi feito,
O fumaceiro cobriu,
O círculo ficou estreito
De bacamarte e fuzil
E o velho do mesmo jeito.

Pra não dizer que o velho
Não fez uma só ação,
Ficou lendo sossegado
E desprendeu uma mão,
Quando a nuvem de fumaça
Fazia sombra no chão.

O bando vendo aquilo
Não estava entendendo,
Esperava que o velho
Já estivesse morrendo,
Ele despreocupado
Ainda sentado, lendo.

O chefe desconfiado
Resolveu se aproximar,
Quase não tinha palavras
Nem meio de se expressar,
Teve medo de morrer
Quem vivia de matar.
-11-

- Isso é assombração,
Fantasma do outro mundo
Que pode até me matar
Bateu-lhe um medo profundo
Lembrou-se dos seus pecados
Ficou quase moribundo.

A voz puxada do velho
Quase que fez-lhe correr
Mas o velho o acalmou
E começou a dizer:
- Não posso ser perturbado
Quando me concentro a ler.

Foi você e esses cabras
Que atiraram em mim.
Nesse mundo de desgraças
É comum ver gente assim,
Eu vivo só para o bem
Não aceito o que é ruim.

Lampião interrogou-lhe
- Mestre quem é o Senhor?
O velho lhe respondeu:
- Eu nem sei mesmo quem sou,
Me chamam de Ligeirinho
Ao seu inteiro dispor.
-12 -

Por falar em ligeireza
Não gosto de confusão.
Quero lhe fazer a entrega
De toda essa munição
Que atiraram em mim
Eu pude pegá-la à mão.

Lua Branca ficou pálido,
Sabonete desmaiou,
Jararaca quis correr
Gavião lhe sustentou,
Corisco caiu de medo
Quis falar mas não falou.

Nisso, Lampião olhou
A munição atirada:
Bala de rifle e canhão
Todas no chão ajuntadas
- Pensei que sabia tudo
Acho que não sei de nada.

Desconfiado, intranqüilo
Estava o cangaceiro.
E interrogou o velho
-O senhor é feiticeiro?
Se quiser andar comigo
Recebe ouro e dinheiro.
- 13 -

- Quem vive servindo a Deus
Não precisa de riqueza.
Eu nunca gostei de rico
Sempre amei a pobreza
Vivo em paz comigo mesmo
E o meu forte é ligeireza.

A Legião me protege
Mas eu sempre ando só,
Meu cabelo é bem curtinho
Se quiser faço cocó
Sei de todos os caminhos
E em pingo d'água dou nó.

Logo caiu um toró
Com relâmpago e trovão
O vento deu um açoite
Que sacudiu Lampião
E os cabras todos ficaram
Molhados feito pirão.

Logo que a chuva passou
O céu ficou nublado
Lampião se assustou
Quando olhou para o lado
E notou que Ligeirinho
Não havia se molhado.
- 14 -

Nenhuma gota de água
Tinha o velho tocado,
Em meio à chuva grossa
Ele pulou um bocado...
Mas até do menor pingo
Ele tinha se livrado.

Lampião rei do cangaço
Que nunca dava moleza.
Conhecia a artimanha,
Muitos golpes de destreza
Mas não tinha explicação
Pra tamanha ligeireza.

Foi caindo na real
E tratando de fugir
Olhando o matagal
Onde havia de sumir
Sem deixar nem um sinal
Sem mesmo se despedir.

Saiu correndo apressado
Desceu uma grota funda
Depois subiu a ladeira
Numa carreira profunda,
O cangaceiro correu
Que o pé bateu na bunda.
- 15 -

Lampião foi torturado
Por tamanho sacrifício.
- Correr com medo dum cabra
Sem fazer um rebuliço
Nunca havia acontecido,
Mas são ossos do ofício.

O campeão do gatilho
Primeiro na sutileza.
Depois deste episódio
Ele caiu na fraqueza
De querer não mais ouvir
A palavra ligeireza.

A raiva de Lampião
Obrigou o cangaceiro
A andar a noite e o dia
Correr o sertão inteiro
A procurar por um nome
Para não dizer ligeiro.

Depois de um grande esforço
Encontrou e teve paz
Tanto o chefe dos bandidos
Como qualquer capataz,
Rápidos poderiam ser
Mas ligeiros, nunca mais.
- 16 -

FIM

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